quinta-feira, 6 de junho de 2013

Jogos\Os intérpretes: limites ampliados de espaço e tempo\teatrais.O Papel do Ator\Atriz - Intérpretes diante de Cenas

“Todo homem é um campo de batalha e o artista é sempre um transgressor. Os que acham que o ator vai para o palco somente para fazer o que aqui fora é proibido têm uma visão preconceituosa da profissão. O palco é um espaço libertário por excelência e quem não tem demônios dentro de si não aguenta o jogo”. (Fernanda Montenegro em O Exercício da Paixão, segundo Lucia Rito,1990)

O jogo duplo: vida e arte se confundem em tempos-espaços. Na diversidade de pseudônimos, ou nomes artísticos; a carreira de sucesso de grandes intérpretes em seus espetáculos, (fora o jogo do drama e da comédia) começa por meio de outro Nome, o teatral. Ser e tornar-se intérprete da cena (vocação). João Álvaro Quental (Procópio) Ferreira; Gentile Maria (Della Costa) Marchioro; Sérgio Corrêa de Britto; Dolores (Dercy) Gonçalves Costa; Arlette Pinheiro Esteves da Silva (Fernanda Montenegro); Francisco (Chico) Anysio de Oliveira Paula Filho, são alguns exemplos disso. Tomar parte de outro é aventurar-se em dupla personalidade. Por isso que, perante minha própria prática de formação teatral e de vida, como comprovação de [r]existência no Teatro me chamo Lúcio Leonn. Da ação do jogo teatral Ator\persona, é permanecer em duplo sentido: estar sendo... 
Segundo BROOK (2000 p.20): A porta aberta: Reflexões sobre a interpretação e o teatro;

Isso nos leva à questão do ator como artista. Pode-se afirmar que o verdadeiro artista está sempre disposto a qualquer sacrifício para atingir um momento de criatividade. O artista medíocre prefere não correr riscos, e por isso é convencional. Tudo que é convencional, tudo que é medíocre, está relacionado a esse medo. O ator convencional põe um lacre em seu trabalho, e lacrar é um ato defensivo. Quem se protege ‘constrói’ e ‘lacra’. Quem quer se abrir tem que destruir as paredes (In: “As Artimanhas do Tédio”).

Assim, ações em vidas de jogos teatrais por Paschoal Carlos Magno e seu Teatro do Estudante do Brasil (1938/1952); Alfredo Mesquita e sua Escola de Arte Dramática (EAD\1948); o talento nobre de Dulcina de Moraes (quem lutou muito) por uma Fundação Brasileira (escola) de Teatro (1955\1968-RJ\1980-DF); B. de Paiva, grande idealizador do Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará (1960), anos mais tarde (1969 para 1970) criou o primeiro curso superior de artes cênicas, na Escola de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio); além de tornar-se fundador da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (1982).
Tais ações em jogo (teatral) é esquecer-se de si e dá vida a outro ser, tão perene de existência; o ator\papel\função\vida de artista. Ser atemporal, ao mesmo instante, fundir-se de tempo-espaço, estar em (não-) lugares\diferentes – é, resultar-se memorial. Manifestação teatral de subsistência no meio a tantos jogos de verdades e “mentiras”. Tanto que, nas (primeiras) palavras da atriz Fernanda Montenegro (1988), “é a perseverança da verdadeira vocação que vai distinguir o jogo verdadeiro do jogo mentiroso” (p.14). E, por esta razão, é “o jogo do talento e da vocação” à meio de tantos ou, outros jogos verdadeiros do jogo mentiroso: o jogo não vocacional do “artista”. Uma regra meio que distorcida da partida dele, ou, do seu ato de jogar... Teatrar... (Na arte\vida). Seguiremos agora para o jogo entre\o estar\sendo: intérprete\personagem. Breve experiência pessoal na vivência do jogo\teatral de papéis.
O Papel do Ator\Atriz - Intérpretes diante de Cenas
Por um olhar de ator e diretor o francês Maurice Durozier (Théâtre du Soleil); sendo seu discípulo desde 1988, nos abre aqui o nosso jogo teatral\intérprete brasileiro: “Pontualidade é essencial. Fazer teatro, também é controlar o tempo” (Citação oral,14.06.2010. Oficina (2) o Teatro é o Outro, Sala de Teatro Nadir Sabóia -Theatro José de Alencar\TJA: Fortaleza - CE.).   Então, é porque se representa outros jogos de elementos constituintes no Teatro que se queira atingir como meio de expressão cênica durante o processo e linha de montagem, coletivamente (respeitando as devidas atribuições\concepção de todos os artistas\o jogador em seus elementos técnico-constitutivos inseridos na cena).
Segundo o Professor Paulo Vieira (apresentação à edição brasileira: a arte do efêmero, p.19) sobre a encenadora Ariane Mnouchkine (1939-) e as leis de seu Théâtre du Soleil (desde 1964) indica-nos que: “durante o jogo de preparação do ator, toma direção contrária a que Stanislavski apontou, trabalhando antes as situações propostas do que as emoções que são a seu ver, resultado do encontro entre o ator e o espectador”(In: FERAL, Josette (2010). Encontros com Ariane Mnouchkine: erguendo um monumento ao efêmero. Editora Senac São Paulo: Edições SESC SP.).
Outrora, após ter sido selecionado como aluno-ator Oficina Théâtre du Soleil (CE) “Curso de Interpretação a partir de Trabalho com Máscaras e Maquiagem” (1988)[1], ministrada por Georges Bigot e Maurice Durozier; um das leis do jogo presente era: “encontrem-se em cena com o outro ator\personagem. Tudo que se realiza na cena é do ponto de vista do papel (personalidade da máscara); da situação dramática do texto (improvisação)”.
Fundindo tal memória de espaço\tempo ao ano de 2010, mais uma vez, Durozier alerta o intérprete de hoje: “Não podemos fabricar emoções. Busca-se a emoção em estado puro. E, cada emoção tem uma ação orgânica; provocam mudanças profundas no corpo do ator e na plateia. Para isso trabalha-se com a imaginação” (citação oral; “Oficina (2) O Teatro é o Outro”, 15 de julho\TJA). Além disto, diante do palco\espetáculos\recepção\audiência– tendo à frente como mediador\orientador o artista\educador são ações de potencializar o trabalho artístico do intérprete\criador. Retomando o aspecto da figura do encenador tem de fazer fruir os elementos visuais como são (literalidade). Tem de fazer uma representação literal e não criativa. Devem-se criar imagens! Já o ator cria imagem através da ação. E, não interpreta o resultado destas.
Uma vez que (FORTUNA, 2000: A Performance da Oralidade Teatral) nos diz que:
O ator jogador, permanentemente consciente, é capaz de ser absorvido inteiramente pelo jogo, mas sempre senhor dele e nunca escravo. Melhor dizendo, ele é sempre senhor, simulando ser escravo. [...] O jogo é jogado até o fim, dentro de certos limites de tempo e de espaço, com caminhos, destinos e sentidos próprios. Inicia-se e em determinado momento acaba. O jogo é territorializado por um espaço determinado, espaço sagrado, círculo mágico. O palco, tal como a arena, o templo, o lar, a tela, o campo de tênis, têm todos a forma e a função de terrenos de jogo, isto é, lugares proibidos, isolados, sacralizados, circunscritos a um mundo temporário; em pleno interior são instituídas e respeitadas determinadas regras. Todos eles são mundo transitórios dentro do mundo habitual, dedicados à pratica de uma atividade especial. (Tópicos “Ator – O Mestre do Jogo” p.86; “Jogo- Tempo e Espaços Sagrados – Ordem e Regras” p.87): Capítulo II- Jogo e Prazer no Efêmero Cênico.
O jogo (dramático) teatral é uma aventura da criação e o ator nunca para. O trabalho segue no interior do corpo de intérprete. Tanto que conheci os apontamentos teatrais de Marlene Fortuna ano de 1996, durante o I Festival Nacional de Teatro de Jacareí em São Paulo, ainda na sua palestra: “A Construção do Ator”, ocasião àquela quando também, foi júri oficial do festival, juntamente com os atores: Ewerton de Castro e Lélia Abramo. Marlene Fortuna é atriz e hoje professora, ex-integrante do Macunaíma Grupo de Arte Teatral-Teatro Antunes Filho, início da década de 1980. Sua palestra tornou-se parte paralela ao evento. Lembro-me, que quanto ao jogo de “Corpo e Voz”, Fortuna referia-se a técnica do desequilíbrio, o relaxamento, a respiração, os princípios em técnicas orientais, a plena consciência da repetição, etc. Citando Fortuna, como “Conseguir Espontaneidade da Representação dos Mecanismos de Defesa dos Personagens; Onde em todo texto há um mecanismo de defesa”. Assim como também lembro, que seus “Ensaios” citando ainda Fortuna, tratavam-se de “Espaço Sagrado para Rasuras e Probabilidades”, (ou seja, testagem), bem como da presença da ética mais estética e da absoluta disciplina (Lucena 2002, p.56).
 Para tanto, ainda hoje seguindo seus fundamentos devemos deixar a ressonância de suas ideias (temas) ecoarem em nós, igualmente no grupo (ator\jogadores). Fazer todos à comunhão do saber ouvir. Justo: “O teatro é um ofício. O diretor trabalha e escuta. Ele ajuda os atores a trabalhar e escutar”; (Brook, p.102): “Não Há Segredos”. É uma regra de respeito igualmente à criação cênica. E, mediação\orientação do processo pré-(pós)-cênico. “Inventar um jogo teatral significa também inventar um verbo que não seja totalmente emprestado da realidade” (Catherine Mounier apud Paulo Vieira, segundo Feral 2010, p.18).
Já SALLES (2004, p.51) diante de relato do ator e diretor paraense Luis Melo (1993) quando em construção de espetáculo, nos revela o seguinte: “Há um tempo de adaptação com o outro para saber como jogar com ele”. E, sobre o tal pensamento “como meio de expressão cênica”; durante o processo em abordagem colaborativa, a atriz Marília Pera (1988) confirma: “Para mudar uma marca só para mudar não interessa. Você vai se seu personagem tiver realmente de ir. E quando você for, tente perceber se você está formando um desenho bonito de se ver de fora e que esteja utilizando bem o espaço” (Salles p.77). Notam-se ambas as descrições acima, a presença do jogo subjetivo. Da objetividade da, e, na cena, em cada intérprete, a partir da fisicalização do outro; de si\ambiente da ação\tempos\espaços. Um duplo; múltiplo divertido ou tortuoso jogo na compreensão de sentidos. Da busca do uníssono: o espetáculo.
Emiliano Queiroz (Aracati\CE 1936-) ator cearense consagrado na cena brasileira (teatro, cinema, telenovelas e dramaturgia) sendo aluno do terceiro mestre Eugenio Kusnet no curso para atores profissionais do Teatro Oficina de São Paulo, o mestre sempre solicitava um exercício que Emiliano gostava muito. “Quero que conte um fato real evitando a fantasia. No decorrer da narrativa, você toma a liderança e cria uma cena” (inspiração para a peça): “Na Sobremesa da Vida”, direção Ernesto Piccolo. (In: Folder da peça (Teatro Emiliano Queiroz\SESC Ceará: 2012.)). Ou ainda, [Emiliano Queiroz apud segundo LETICIA, 2006]: “um exercício onde a narrativa desse lugar à ação sem que se perdesse concentração e a emoção proposta” (p. 85).
Via de regra, surge nosso oficio em jogo a tomar corpo de intérprete diante das cenas e situações adversas. A lei do saber-fazer aqui e agora. Uma possibilidade de inúmeras abordagens pela experiência pessoal na vivência do jogo teatral. E, Emiliano no decorrer de sua profissão, como ator (brasileiro) soube tirar proveito disso.
Enfim, o papel do ator\atriz - intérpretes diante de cenas – nos estudos de Fortuna faz-nos, também, compreender que:
O jogo, sabemos, é um dos mais fortes instrumentos ideológicos do ator no sentido de impedir-lhes a tão nociva simbiose com o personagem. A partir do momento em que o ator e o personagem se transformam num só coração, em unidade, a beleza da interpretação tende a desaparecer, pela dissolução dos referenciais e com eles a lucidez indispensável do jogo. In: O Jogo – O ator e o Mediador\Investigador. Subtópico “O Fenômeno do Distanciamento” (p.101).
Então, o jogo teatral funciona como uma transmutação do intérprete ao plano real\ficcional da cena (circunstâncias justificadas); seu salto ao vazio adquire uma força de abordagem de estar no “plano da razão” pela mediação consciente; revelando-se na técnica ou numa abordagem. Pois, “Todo artista é partidário da ideia de que a prática do teatro depende sim, de uma técnica” (segundo Celso Nunes (1992) apud Lucena 2002, p. 21). No mesmo tempo-espaço, ocultar-se ao infinito das cenas. Partícipe em equilíbrio teatral: texto\plateia. O entre\estar\sendo: ator\personagem\artista, o jogo\teatral\acontecimento\vida.




[1] Ver igualmente, o trecho “Oficina Teatral: Uma Experiência Francesa que deu certo em Fortaleza” (Anexo II- parte integrante da pesquisa em pós-graduação, intitulada: “Os Processos de Formação Teatral em Fortaleza na Década de 1990: Memórias de um Ator” (2002 pp.97-98.).). Disponível em: http://notasdator.blogspot.com.br/2008/11/oficina-teatral uma-experiencia-francesa.html.

Referência: LUCENA, Lúcio José de Azevêdo. Trajetória, projetos e teatro: apontamentos memoriais da formação artística e acadêmica de um professor/ator. 2012. 62 f. Monografia (Licenciatura em Teatro)—Universidade de Brasília, Brasília, 2012. Íntegra: http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/5295/1/2012_LucioJosedeAzevedoLucena.pdf


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